O ENVOLVIMENTO COM A ESCUTA
Aus Ouvidos realiza intervenção com escutas pontuais e roda de conversa na Escola Estadual São Vicente de Paula na cidade de Exu – PE.
Com o tema sobre a importância da escuta na intervenção e interlocução de docentes e discentes; cuidamos de abordar uma questão imprescindível: qual o saber percebemos estar implicado na ação da escuta? Esta pergunta permite que o encontro se desenhe partindo de um lugar de pertencimento, entre nós e o outro.
Uma simples ação para quem assiste de fora, uma complexa experiência para quem participa, assim é a escuta.
Escutar é um desafio, um movimento que permite estarmos em outras cenas. O que encanta na escuta é o não saber, se estamos prontos e imersos no equívoco de um saber já colocado sobre quem é o outro, o que ele apresenta e tantas outras impertinências, perdemos o fio que nos alinha ao desejo de escutar e ser escutado.
Para que o envolvimento de uma nova descoberta sobre o lugar que cuidamos e sentimos ser uma percepção de aprendizagem e inovação nas relações com afetividade, respeito, empatia e espontaneidade ocorra; a escuta deve ser antes de tudo, um conhecimento, uma experiência de sentir e existir.
Esta proposta faz surgir consistência nas ações sociais de transformação e cuidado humano. Cada direção que podemos realizar em busca de uma escuta que vai cuidar melhor de permitir saber sobre você mesmo e oferece recursos aprimorando o lugar de encontro para com o outro, é um espaço transformador que habita e molda o movimento humano contribuindo para o amadurecimento e fortalecimento de conhecimentos e aprendizados.
Percorremos três meses com a disponibilidade das escutas pontuais, cada educador encontrou com a possibilidade de agendar quantas escutas sentisse necessária para falar de suas ideias, suas angústias, ansiedades, suas lembranças, seus temores, seus sonhos com os profissionais de modo sigiloso, momento de experimentar ser escutado por um profissional onde não havendo julgamentos, exigências e simplesmente a espontaneidade do ato de falar; ocorreu a condição de ouvir a si mesmo.
Após esta etapa tivemos um encontro de troca com o curador da escuta que foi interlocutor de pontos relevantes sobre qual seria o melhor caminho entre as ações necessárias que a escola já necessitava para colocar em prática as escutas diferenciadas com os alunos, recém-chegados ao modo presencial pós pandemia, este foi nosso ponto chave sobre escutarmos como estamos nos reencontrando. Naquele momento voltar ao presencial não foi retornar a um processo já em andamento ou retomar de onde parou.
Neste ínterim cada educador foi recebido em escuta, se tornou importante para que viessem redimensionar as leituras e as perspectivas de sua atuação presencial no instante pós pandemia. E ainda com dificuldades em encontrar o melhor caminho, ter a segurança de que em tempos difíceis a escuta é espaço necessário, constituinte de modos inovadores nas relações humanas com respeito, responsabilidade e credibilidade no que há de melhor a ouvir nas mais diversas histórias e memorias que compomos em nosso cotidiano.
Importante ressaltar que as escutas pontuais não se caracterizam em psicoterapias, e por serem nomeadas como pontuais não quer dizer que estão ofertadas em uma única vez, pelo contrário o convidado à escuta poderá realizar por quantas vezes sentir necessidade. A experiência deverá ser de acordo com as necessidades, o que nos coloca em uma ação singular que visa a coletividade de um bem-estar.
Avançamos para etapa seguinte, o encontro para uma roda de reflexão. Um momento importante onde cada pessoa teve seu espaço de fala, escutamos e fomos escutados, provocamos e construímos uma expectativa sobre como, o que, de que modo, qual a história, o que o conceito, modelo de trabalho, se torna um grande movimento para fazer juntos algo diferenciado, onde o novo vem demandar a invenção e inventar é criar, perceber e acreditar ser possível experimentar em conjunto.
A conclusão desta experiência nos permite dizer que Aus Ouvidos apresenta a reinvenção da escuta articulando para um horizonte social, no qual estamos imersos em uma multiplicidade de vozes e falas.
Escutar é possibilitar um novo diálogo, um novo compromisso de narrativas onde o viés da singularidade se ocupa de forma íntegra, delicada e responsável.
Essa travessia em tempos de fragilidades e reconstruções, requer que a escuta pouse em forma pontual, democrática e inclusiva.
A escuta pontual tem seu lugar de protagonista entre nós, reverberando em cada um o movimento para novas perspectivas
Denise Nogueira Abreu